Capital do Terceiro do Mundo
Me disseram que não era de bom tom
Falar em poesia sobre o preço do feijão,
Da conta de luz, da carne e da gasolina.
Que era feio, coisa de comunista.
Moro na capital do Terceiro Mundo,
Onde temos o orgulho de vender
Banana, soja, minério e carne de boi
Uma riqueza que se extrai da miséria.
Destruímos as serras, as matas e seus animais.
Secamos as nascentes, poluímos os córregos.
Das muitas obras, surgem mais cidades.
A pobreza fica ao redor como entulho e sobra.
Aqui a sorte não é para todos
A morte, cedo ou tarde, é para todos.
Está em qualquer lugar para cada um
Como uma noite que nunca passa.
Quem tem culpa de ter nascido rico?
Só quando se nasce pobre, faminto.
Quem tem culpa por tudo isto?
Sentimos muito ou quase nada.
Não somos um povo, e nem desejamos ser
Somos os filhos de fulano e neto de beltrano
Ganhando não sei quantos mil por mês
Pagando boleto e morando financiado.
Por isto que na capital do Terceiro Mundo
Disseram que era feio falar sobre o preço do feijão,
É pra falar dos homens, seus sonhos e suas obras.
Mas não vejo homens, nem sonhos ou suas obras.