Capital do Terceiro do Mundo

Me disseram que não era de bom tom

Falar em poesia sobre o preço do feijão,

Da conta de luz, da carne e da gasolina.

Que era feio, coisa de comunista.

Moro na capital do Terceiro Mundo,

Onde temos o orgulho de vender

Banana, soja, minério e carne de boi

Uma riqueza que se extrai da miséria.

Destruímos as serras, as matas e seus animais.

Secamos as nascentes, poluímos os córregos.

Das muitas obras, surgem mais cidades.

A pobreza fica ao redor como entulho e sobra.

Aqui a sorte não é para todos

A morte, cedo ou tarde, é para todos.

Está em qualquer lugar para cada um

Como uma noite que nunca passa.

Quem tem culpa de ter nascido rico?

Só quando se nasce pobre, faminto.

Quem tem culpa por tudo isto?

Sentimos muito ou quase nada.

Não somos um povo, e nem desejamos ser

Somos os filhos de fulano e neto de beltrano

Ganhando não sei quantos mil por mês

Pagando boleto e morando financiado.

Por isto que na capital do Terceiro Mundo

Disseram que era feio falar sobre o preço do feijão,

É pra falar dos homens, seus sonhos e suas obras.

Mas não vejo homens, nem sonhos ou suas obras.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 26/01/2020
Reeditado em 26/01/2020
Código do texto: T6851203
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