SEIS SONETOS ERÓTICOS
1
Sonho-te nua sobre a areia branca.
Um gosto de alga solta-me os sentidos
enquanto um mar de náufragos perdidos
vem fustigar, em fúria, a tua anca.
Abraço, com firmeza de alavanca,
os teus joelhos, levemente erguidos
como uma ponte sobre sonhos tidos
que a maré vem repor e logo arranca.
Os teus lábios implantam labaredas
que me flagelam num desejo rubro.
Cerro os olhos e a minha mão tacteia
o teu cabelo solto em que me enredas.
Mas, por mais que esbraceje, só descubro
algas, ecos de mar, sonhos e areia.
2
Aspiro-te no hálito do vento.
Na voz do mar escuto-te um segredo.
Procuro-te na noite e tenho medo
que não passes da imagem que eu invento.
Desenho-te no chão, mas foges. Tento
na curva do teu seio expor um dedo.
Responde-me a dureza dum rochedo
que me esmaga e tritura o pensamento.
Alcanço-te entre a música e as rosas.
Um piano sorri à nossa frente.
Descanso no teu colo e o fogo acalma.
Sobre o teclado esvoaçam mariposas.
(Ai, não poder, voluptuosamente,
arrancar um acorde da tua alma...)
3
Nos jardins do teu corpo de alvas flores,
o meu olhar desnuda-te, impaciente.
Sorris-me com doçura, complacente
à avidez com que avivo as tuas cores.
Toco-te a pele e acolho-te os tremores
de ansiedade incontida. Irreverente,
a minha mão na tua coxa sente
escorregar um fluxo de suores.
Estremecem-me os lúbricos anseios
que à flor dos lábios te ouço suspirar.
Um odor que desperta devaneios
invade-me as narinas, a chamar.
Mordo-te os pés, o sexo, o ventre, os seios
e absorvo o teu sabor a sal e a mar.
4
De novo em sonho me apareces nua,
olhos magoados e sorriso triste.
O meu rosto ao teu rosto não resiste
e a minha boca não resiste à tua.
Beijo-te o corpo em plena luz da lua.
Nos teus seios, erectos como silos,
os meus lábios contornam os mamilos
que a língua acaricia. Pões a tua
mão por entre a floresta de desejos,
ali onde um vulcão se abre aos meus beijos
que o penetram com força apetecida.
Apertas-me entre as coxas, a tremer,
até que ocorre a erupção-prazer
e, enfim, o sonho se transforma em vida.
5
O temporal sacode a noite. O mar
enfurece-se em espuma nos rochedos
da minha solidão. Cansados medos
guardam a porta para me levar.
Mas, no escuro, o teu vulto, a deslizar
junto ao meu leito, vem depor segredos
com beijos leves, suaves. Os teus dedos
percorrem o meu corpo devagar
e erguem um monumento, quente e teso,
que rasga a noite qual farol aceso.
Acaricias, beijas... Fico mudo.
A tua boca inunda-me em prazer.
Descargas de loucura vão romper
diques, amarras, leis, certezas, tudo.
6
Os frutos dos teus lábios mordo, cheios
do licor quente em que se gera um beijo.
Nas minhas mãos, trementes de desejo,
desabrocham, macios, os teus seios.
Os dedos (minhas pétalas) passeio-os
por entre as tuas coxas, num cortejo
até aquele porto por que almejo,
onde me aguardam lúbricos anseios.
Pela mão me conduzes – e em ti entro.
Fundem-se os nossos corpos. Sentes dentro
de ti uma delícia quente e dura.
A ti me dou, contigo me confundo.
Em ti derramo o meu prazer profundo
que te envolve de gozo e de ventura.