O engraxate

O pequenino engraxava

Passava o pano seco

Engraxava Engraxava

Passava a tinta

Engraxava Engraxava

Passava a graxa

Engraxava Engraxava

Passava outra vez a flanela rasgada

O homem olhava e dizia nada

O pequenino engraxava

A senhora, sentada ao lado, no banco da praça

Olhava de cima se seu orgulho e não aprovava

O pequenino fazia tudo de novo e caprichava

Com uma escovinha contornava

Engraxava Engraxava

O homem enfiava a mão no bolso mais fundo que uma cova

Trazia uma moeda

O pequenino engraxava engraxava engraxava

A lágrima descia pela face de tinta salpicada

Aquela moedinha sequer para um pão dava

O pequenino de noite sonhando

Engraxava Engraxava

E a fome nunca passava