Reminiscência
Tu resides
Nas fragrâncias de um perfume
Cítrico, sólido, suave e súbito
Que me atravessou no meio da rua
Enquanto eu pensava em qualquer coisa
Os afazeres subitamente obliterados
Pela constatação inquieta e involuntária
Da tua presença distante
Cintilantemente secreta e invisível.
Tu ecoas
Numa palavra lançada ao vento
Pronunciada por alguém desimportante
Que me evocou certo assunto antigo
Que discutimos à exaustão
Afetadamente preocupados
Com a qualidade dos nossos argumentos
Como se estar certo fosse mais valioso
Do que estar junto.
Tu emanas
Uma luz efêmera como um farol distante
Que me guia por tortuosas tormentas
Ainda que na névoa que a luz reflete
Morem senão antigos lamentos.
Esse espectro nublado que te envolve
Está em tudo, impregnado
Intangível, intocável, inútil.
Teu jeito de estar em mim, ausente.