MEU AVESSO

Meu Avesso

Lílian Maial

Meu avesso hoje me cobre,

bicho-da-seda das minhas entranhas,

eviscerada mulher de muitas faces,

que assanha os espelhos estilhaçados.

Meu avesso hoje me ilumina

e rege meus passos e movimentos,

como a troca de pele das cobras,

renasço mais eu, a cada escalpo.

Meu avesso hoje me enfeita,

destilo os brilhos de meus olhos,

o gosto de meus fluidos,

e o cheiro de meus cios.

Meu avesso hoje sou eu,

que me sorrio para dentro

e me aliso os temores,

que me enxergo os defeitos

e me reparo os danos,

que me recolho por opção,

ou me exibo por decisão,

que me comparo ao diabo

e me elevo a deus,

que me perdôo e condeno,

ao bel-prazer do meu querer.

Meu avesso é dupla-face,

tão igual ao meu verso,

que custo a entender, ao acordar,

que em minha casa não há espelhos.

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