Ausência de mim
Ausente dos homens e das dores
vagueio pela extensão
de um túnel negro do tempo.
Não sou
nem estou
não quero estar
nem quero ser
quero apenas viver!
E com isso, num estado de silenciado pranto
no âmago mais profundo, esquálida
minha vida emerge lívida.
Desejo reles e permanente
de querer ser gente!
Na raiva, aglomero impulsos
levanto enormes muros
mordo a língua, cerro os dentes
asfixio a palavra
no turbilhão ciclíco da saliva.
Ausente dos homens e das flores
rebusco um gesto brando
um sentido pressentido
ouso elevar um braço
iço-me etérea no oco do espaço
Dependuro-me feito equilibrista, acrobata
no vértice do som mais estridente
nas estrelas mais brilhantes
com a boca faço-as mudas
silenciadas, abocanhadas
Ausente dos homens e das cores
apenas o vermelho
pinta as maçãs do meu rosto
pela fúria que restou do ontem
e das flores e dos frutos
esqueci há muito tempo
seus recortes, texturas e sabores...