Ausência de mim

Ausente dos homens e das dores

vagueio pela extensão

de um túnel negro do tempo.

Não sou

nem estou

não quero estar

nem quero ser

quero apenas viver!

E com isso, num estado de silenciado pranto

no âmago mais profundo, esquálida

minha vida emerge lívida.

Desejo reles e permanente

de querer ser gente!

Na raiva, aglomero impulsos

levanto enormes muros

mordo a língua, cerro os dentes

asfixio a palavra

no turbilhão ciclíco da saliva.

Ausente dos homens e das flores

rebusco um gesto brando

um sentido pressentido

ouso elevar um braço

iço-me etérea no oco do espaço

Dependuro-me feito equilibrista, acrobata

no vértice do som mais estridente

nas estrelas mais brilhantes

com a boca faço-as mudas

silenciadas, abocanhadas

Ausente dos homens e das cores

apenas o vermelho

pinta as maçãs do meu rosto

pela fúria que restou do ontem

e das flores e dos frutos

esqueci há muito tempo

seus recortes, texturas e sabores...

Francis Faria
Enviado por Francis Faria em 07/10/2007
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