P R E C I O S I D A D E S (196)
A C A T E D R A L
Entre as brumas ao longe surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora.
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus ! Pobre Alphonsus" !
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Um áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Onde os meus olhos tão cansados ponho
Recebe a bênção de Jesus.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus ! Pobre Alphonsus " !
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na luz do céu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus ! Pobre Alphonsus " !
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus ! Pobre Alphonsus" !