DAS MORTES QUE, POR VENTURA, CAUSEI

Não existe pecado para a dor acumulada

Somente a palavra torpe de usura do rico

Cabe, na estrada, a oferta ao pão do miseravel faminto

Que, a ele, os olhos da luxuria não contemplaram.

Segue o homem, animal, em suas estranhas, enlouquecido

Atiçando o porvir, derramando os sangues da inocencia

Explorando as carencias, matando os desejos

Rejeitando as sinas dos desafortunados, no ocaso dos sonhos.

Eu resisto, a natureza me contempla, e agoniza um murmurio

E a dor lancitante, cravada a ferro por sob minha alma exposta

Querendo sair, em seu poder fortuito, dentro do dia que amanhece

Das noites que já foram escuras, e das mortes que, por ventura, causei.

Vou-me, do sonho, estremeço os gemidos e, deles, extraio a sorte

Dos agonizados, o subterfugio do viver, nada mais do que um sopro

Dos rendidos, a propria sina da morte expressa pelas bocas relutantes

A vida se sobra, soma, extingue, e nada mais restará do que o seu lamento.

Shila Kalmi
Enviado por Shila Kalmi em 22/01/2020
Reeditado em 22/01/2020
Código do texto: T6847772
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.