Um diário em versos
Ele ainda não sabia escrever
E já fazia poesias
Rimava palavras e brumas
Teias de brumas embaçavam o seu olhar
Girava, como slides, visões que o encantavam
Em um moinho só de vento, só de brisa
Remoía seus penares na moenda
Onde moía, também o café torrado
Marcava seu nome em árvores
Como ainda não sabia escrever
Usava ícones para cicatrizar o tronco
Desenhava alvorecer
Com notas do canto dos pássaros
E o entardecer, como olhos de jacaré,
Só se via, quando no escuro, se acendia a lanterna
Bastava-lhe repetições que o fizessem sorrir
Como as do pica-pau, copiando as suas lições
Aquelas que deixava nas cascas das árvores
Afastava-se das esticadas cercas de arame farpado
Não pelos espinhos que portavam
Mas pela liberdade que elas tolhiam
Ele escrevia estradas, sem que houvesse ponto de ônibus
Sem que soubesse escrever, o ônibus ia...
Até aonde ele queria
Por toda a vida daquele menino
Ele escreveu poesia, todos os dias
Mesmo depois... que aprendeu a escrever