Um diário em versos

Ele ainda não sabia escrever

E já fazia poesias

Rimava palavras e brumas

Teias de brumas embaçavam o seu olhar

Girava, como slides, visões que o encantavam

Em um moinho só de vento, só de brisa

Remoía seus penares na moenda

Onde moía, também o café torrado

Marcava seu nome em árvores

Como ainda não sabia escrever

Usava ícones para cicatrizar o tronco

Desenhava alvorecer

Com notas do canto dos pássaros

E o entardecer, como olhos de jacaré,

Só se via, quando no escuro, se acendia a lanterna

Bastava-lhe repetições que o fizessem sorrir

Como as do pica-pau, copiando as suas lições

Aquelas que deixava nas cascas das árvores

Afastava-se das esticadas cercas de arame farpado

Não pelos espinhos que portavam

Mas pela liberdade que elas tolhiam

Ele escrevia estradas, sem que houvesse ponto de ônibus

Sem que soubesse escrever, o ônibus ia...

Até aonde ele queria

Por toda a vida daquele menino

Ele escreveu poesia, todos os dias

Mesmo depois... que aprendeu a escrever

Roberto Chaim
Enviado por Roberto Chaim em 22/01/2020
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