A DAMA DO CASARÃO
Refúgio de artistas de todas as partes
Paulistas, Cariocas, das Minas Gerais
Gaúchos, Baianos, sempre cabia mais
Tardes de sarau, ouvidos em festa
Violões à rua nas noites de seresta
No casarão da avenida
Sessões de cinema
Música em produção
Poesias em criação
Uma faixa no portão
“Cultura faz bem à vida”
A dona mulher de fino trato
Recebera uma herança polpuda
Tornara-se Mecenas das artes
Calçava somente salto alto
Usava perfumes caros
Colecionava livros raros
Causava inveja e admiração
O desfilar de suas pernas
Adorava coisas modernas
Nenhuma paixão eterna
O tempo é injusto e ingrato
Lento, perene e perverso
Consumiu sua beleza
A bondade levou riqueza
Daqueles anos de bonança
O casarão é mera lembrança
Vinha em minha direção
Passo trôpego e manco
Calçando velho tamanco
Confesso levei um susto
Era a Dama do Casarão
Nas mãos umas flores
O andar refletia dores
Fez-me aceno gentil
O rosto envelhecido franziu
Retrato da solidão
Soube que vaga pela vida,
Vivendo como pode
Aguarda, talvez, a morte
Merecia melhor sorte
Ao menos uma ode
De despedida