Lenda?

Na pureza da floresta,

uma vil intenção:

segurar as cores

nas profundezas do rio,

no seu corpo bonachão.

Quem ousaria desafiar

a temível serpente

que se revestia

do arco-íris

e da natureza se ria?

Homens e pássaros,

no gemer das árvores,

no chorar das flores,

resolveram enfretar

o monstro das águas

e a beleza conquistar.

Muitas tentativas em vão.

Desapareciam na bocarra

daquele demônio sem coração.

Então, pouco a pouco,

foram desistindo

da terrível empreitada,

até que o pequeno cormorã,

grande mergulhador,

resolveu investir

numa emboscada,

com o propósito de

com algum matiz

se enfeitar.

Mergulhou no rio-mar

e logo encontrou a grande cobra

dormindo entre as raízes.

Cabeça preta, corpo cintilante,

ofuscava seu olhar,

mas nem por isso deixou-se levar

e de bicadas começou a matar

a bichinha toda enroscada.

Depois de morta, grande festança.

Com ganchos longos

trouxeram a fera

e repartiram suas nuances.

Esqueceram-se do valoroso

cormorã, que preto ficou

como antes.

E, na sua humildade e sabedoria,

contentou-se, com alegria,

de seguir sua jornada,

pois o nada pode ser tudo,

como o tudo pode ser nada.

(Inspirado na lenda: A Serpente Arco-Íris, de C. C. Ragache)

SueliFajardo
Enviado por SueliFajardo em 07/10/2007
Reeditado em 07/10/2007
Código do texto: T684544
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