Lenda?
Na pureza da floresta,
uma vil intenção:
segurar as cores
nas profundezas do rio,
no seu corpo bonachão.
Quem ousaria desafiar
a temível serpente
que se revestia
do arco-íris
e da natureza se ria?
Homens e pássaros,
no gemer das árvores,
no chorar das flores,
resolveram enfretar
o monstro das águas
e a beleza conquistar.
Muitas tentativas em vão.
Desapareciam na bocarra
daquele demônio sem coração.
Então, pouco a pouco,
foram desistindo
da terrível empreitada,
até que o pequeno cormorã,
grande mergulhador,
resolveu investir
numa emboscada,
com o propósito de
com algum matiz
se enfeitar.
Mergulhou no rio-mar
e logo encontrou a grande cobra
dormindo entre as raízes.
Cabeça preta, corpo cintilante,
ofuscava seu olhar,
mas nem por isso deixou-se levar
e de bicadas começou a matar
a bichinha toda enroscada.
Depois de morta, grande festança.
Com ganchos longos
trouxeram a fera
e repartiram suas nuances.
Esqueceram-se do valoroso
cormorã, que preto ficou
como antes.
E, na sua humildade e sabedoria,
contentou-se, com alegria,
de seguir sua jornada,
pois o nada pode ser tudo,
como o tudo pode ser nada.
(Inspirado na lenda: A Serpente Arco-Íris, de C. C. Ragache)