Pintor E Sua Musa
A Lua incendeia a alvorada singela do meu sonhar
Ao banho, reluzente, ardente em fantasia
Naquela noite: calor suave, ventos de mocidade, doce melodia...
Pássaros noturnos compondo ao hino do mar!
No meu corpo luminosidade banhada em ouro
Dentro de mim um nascente caminho vindouro
Brotam como sementes na terra os meus pensamentos
No firmamento do meu peito brotam coisas que nunca mais havia sentido: sentimentos!
Então dizem os espíritos dos senhores marinheiros, poetas e pintores:
"Ó, é dia que se tinge em cores, vais navegar!
Não se esqueças dos ventos que vêm do Norte do vosso coração
É lá que deves atracar!"
Um singelo brilho pincela o quadro a se banhar
Quadro, tintas, pinceladas, harmonia...
Na valsa das ondas, vivaz sintonia
E nos meus sonhos a donzela a se formar!
Acordo e, noite já se envolve no véu escuro do céu de minha boca
Quadro pintado, voraz e doce poetar!
És que mesmo sem dizer uma única palavra minha voz fica rouca!
E a brisa noturna agora beija o luar!
E então com o olhar já extasiado
Nas águas se vê estampada a Lua!
E aos poucos uma figura angelical a andar e cantar depois de deitada na areia...
Era esbelta, a brisa chamava seu aroma... Tinha traços de uma deusa... Estava nua!
Seus olhos encontraram os meus
E por instante, num piscar, desapareceu!
O desenho de seu corpo ainda se via na água, seu cheiro ainda respirava n'minha alma!
Onde se encontrava agora aquela bela que cantava?
Foi então que de repente, como num suspiro incessante
Ela encontrava meus olhos do lado de minha pintura!
Ainda mais linda de perto, beleza estonteante... E, assim ela pergunta:
"Belo moço, és um viajante, caçador, poeta errante?"
Vagos silêncios se instauraram
E com uma palavra que a responde sai de meus lábios:
"Pintor" - Ela transborda um sorriso, e os olhos pratearam
Os meus que se juntaram aos dela
Eu a digo: "E de todas as pinturas és a mais bela!"
Ela desliza como pluma em meus ouvidos, sussura baixo e atraente:
"Gosto de pintura, adoro poesia assaz eloquente, e amo morrer de prazer!"
Sua voz cada mais era doce, e dos seus lábios encontrei o meu querer!
Um beijo prolongado, abraços e amassos
A Lua convidando a parar de navegar
No quadro a pintura daquela que estava a me beijar...
No infinito da constelação daquela boca a estrela do desejo a brilhar!
Não era sonho! Mas não era sensação diferente da de sonhar!
Daquela que me fazia desejar loucuras:
Fez com que a natureza aos poucos ficasse muda...
E do seu cheiro alimentei meus sentidos como nunca!
Pelo toque de suas mãos delicadas a sinestesia aumentava!
Da cor do pecado, fiz de sua pele, do meu corpo, minha morada!
Sua voz de sereia e seus cabelos negros como aquela noite
Agora me chamavam...
És que é tempo de parar de navegar!
Quero provar deliciosamente cada sabor destas ondas!
E no corpo de minha amante me perder e me encontrar!
E nas suas tempestades, se for de amor... Só se for de prazer... Eu quero me afogar!