Ladainha dos peixes
Às vezes na memória eu revejo
(chego a me sentir confusa)
Tão nítidas são as cores
Tão sonoros os versos da ladainha
(minha mãe com as panelas na cozinha)
Um homem passando pelas calçadas
(que cena tolinha)
Olha o peixe
Olha o peixe
Olha o peixe
Peixe fresco
Peixe fresco
Uma enfieira volumosa
Um robalo, de todos o maior
O restante de peixe menor
Olha o peixe
Olha o peixe
Olha o peixe
Peixe fresco
Peixe fresco
O homem repetia
Espere aí, meu senhor
Olha o peixe
Olha o peixe
Olha o peixe
Peixe fresco
Peixe fresco
Os peixes arfavam, se debatiam
As guelras vermelhas, abertas
Como leques se moviam
Os peixes resistiam
Meio mortos, meio vivos
Olha o peixe
Olha o peixe
Olha o peixe
Peixe fresco
Peixe fresco
Morreram de vez
No leite de coco e no dendê afogados
Em tantos temperos refogados
Para enfeitar, coentro e cebolinha
Olha o peixe
Olha o peixe
Olha o peixe
Peixe fresco
Peixe fresco
Na tigela os olhos dos peixes me olhavam
Me culpavam
E eu, impiedosa,
Comia
Comia
Comia