Ladainha dos peixes

Às vezes na memória eu revejo

(chego a me sentir confusa)

Tão nítidas são as cores

Tão sonoros os versos da ladainha

(minha mãe com as panelas na cozinha)

Um homem passando pelas calçadas

(que cena tolinha)

Olha o peixe

Olha o peixe

Olha o peixe

Peixe fresco

Peixe fresco

Uma enfieira volumosa

Um robalo, de todos o maior

O restante de peixe menor

Olha o peixe

Olha o peixe

Olha o peixe

Peixe fresco

Peixe fresco

O homem repetia

Espere aí, meu senhor

Olha o peixe

Olha o peixe

Olha o peixe

Peixe fresco

Peixe fresco

Os peixes arfavam, se debatiam

As guelras vermelhas, abertas

Como leques se moviam

Os peixes resistiam

Meio mortos, meio vivos

Olha o peixe

Olha o peixe

Olha o peixe

Peixe fresco

Peixe fresco

Morreram de vez

No leite de coco e no dendê afogados

Em tantos temperos refogados

Para enfeitar, coentro e cebolinha

Olha o peixe

Olha o peixe

Olha o peixe

Peixe fresco

Peixe fresco

Na tigela os olhos dos peixes me olhavam

Me culpavam

E eu, impiedosa,

Comia

Comia

Comia

taniameneses
Enviado por taniameneses em 14/01/2020
Reeditado em 14/01/2020
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