Faço aqui um Estudo Eneassílabo

Por que não me querem os benquistos?

Senão os malvistos, os esquisitos?

Os desolados, os asquerosos

E os bem vestidos e mui cheirosos?

Pois será que eu mesmo não mal cheiro,

Talvez por donde passo doutrora,

Felizmente ou infelizmente, levo

Em meu casaco o abutre meu olhado

Teria evidência em pedregulhos!

Quais me deram com o nome, opróbrio

Vede! Carrego-os presenteados!

São estas figuras, os meus amigos!

Tanto esta é a verdade e a claridade,

E não podendo ser diferente,

Que chega sibilante à troa,

À gorja quente, um nome entoa!

Dizem de mim! Ó, então me querem!

E como me querem, estão aos montes

Enrubescidos chegam a mim,

Trazendo um sol forte, e claro, seu fogo!

Ave aos sinos desta praça então,

Eia, que me estarei por lá às massas

Em auto-da-fé e em chegante data,

Para aplausos intermináveis

Para assobios de vazio

E bocas largas sem bizarria,

Tal obra que só se daria

Para a mais bem-vinda companhia!

E, então, inquiro, sento e logo pasmo,

Não vêm eles a mim como símile?

Não revejo neles algo e

Parece-me que não os desconheço

Será que deles matarei a fome?

Será que ela e eu lá não padecemos

Como amigos ou inimigos, quiçá?

Pergunto e digo ao meu coração:

"Coração, não é tão estranha esta terra

Ou enganas este velho teu mago?

H Reis
Enviado por H Reis em 14/01/2020
Reeditado em 06/02/2020
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