A CIGANA DO BIXIGA NÃO SE ENGANA
Encontrei na escadaria da Rua dos Ingleses
Dona Ana, antiga cigana do Bixiga
Perguntei-lhe se ainda acertava a previsão,
Ela disse: às vezes.
Tem vez que sim...
Tem vez que não...
Dependia da ocasião...
Puxou-me pelo braço
Quis ler a minha mão
Revelar segredos do meu coração
Se eu arrumasse umas flores
E uma garrafa de pinga
Ainda era boa na arte
Podia fazer mandinga,
Sorri e lhe respondi:
Na minha idade o coração só espera enfarte.
Insistiu e abriu sua velha e rasgada sacola
Tirou de dentro a bola de cristal
Era tempo de final de ano
Desejou-me um Feliz Natal
Indaguei sobre o ano Novo
Respondeu que os desejos do povo
São saúde e dinheiro,
Carnaval em Fevereiro
E será feliz o ano inteiro.
Estendi-lhe a mão
Nem me pediu um trocado
Olhou-me de baixo pra cima
Com ar de sabedoria
Leu que meu futuro
Poderá ser duro,
Mas melhor que o passado
Despediu-se dizendo
Não morar mais no Bixiga
Mora agora na Bela Vista
Não é por causa do clima
É que encanta mais ao turista
Emendou sorrindo:
Como quem pede perdão
O Bixiga é lindo,
Fica pra sempre no coração.
E nisso, Dona Ana não se engana