Os sonhos que me impelem
Terra molhada de chuva
me traz o cheiro da infância
e uma lembrança meio turva
de pueris esperanças.
Então me vêm de relance
alguns dos sonhos mirins
e o tanto de confiança
que eu depositava em mim.
A vida, quando criança,
sob o manto da inocência,
nos impele com pujança;
não há nela reticências.
E a morte é algo bem distante,
pouco se houve falar nela.
Tudo o mais está ao alcance,
se a vida parece eterna.
A esperança infantil, pura,
ganha impulso natural.
O sonho infantil perdura
por não ser proposital.
Já a esperança dos adultos
é podada pelos medos
(por defuntos insepultos)
muitas vezes em segredo.
O que me trouxe aqui, pois,
foram sonhos infantis,
não os filhos dos pudores
em que, adulto, me perdi.