Afogado no sonho
Como fumaça, passa o anoitecer.
Esvaziando a noite calma e quente.
Barulhos e vibrações que assombram,
Como uma infernal noite ardente.
Copos d'água que afogam,
Bebo o bastante para manter-me submerso,
É como se as lembranças do passado,
Fizessem com a minha mente, um universo.
Do calor corporal, busco refúgio.
Asseio-me em água fria,
No chuveiro, reflexões profundas.
Mergulho intensamente em euforia.
De repente, o chuveiro torna-se um mar
Tão fundo quanto meus sentimentos,
O sono me torna um náufrago cansado,
Não há como escapar, sem lamentos.
Sem ar, pulmões a beira de estourar,
Nado até a superfície, mas algo me agarra.
Sou refém das minhas memórias,
Que me puxam e me amarram.
Debaixo da água fria como o coração das pessoas,
Dentre as algas escorregadias como a lábia de um corrupto,
Os peixes se alimentam de mim, como esfomeados em guerra,
Repetindo o ciclo ininterrupto.
Num simples piscar de olhos, perco a visão.
Afundo mais e mais, sentindo a pressão.
Meus pequenos farelos mergulhados, em uma só fungada,
Percebo num instante que me afoguei em um copo d'água.