NATAL SEM BILHAR (misturando Rubinato)
João voltou pra casa no primeiro trem da manhã
Tirou o sapato, entrando na ponta do pé
Rangeu a danada da porta.
Rolo de macarrão na mão
Lá vinha a Dina, de cara torta
Ela estava uma fera
Ele havia prometido
Levar ela ao Ibirapuera
Ver a Árvore de Natal
Esperou até meia-noite e nem sinal
Antes dela se acalmar
Sem dar conta do perigo
Falou, num estalo,
Que convidara um amigo
Pra vir jantar em casa,
Depois da missa do galo
Dina lançou um olhar
No ar um arrepio e não foi de frio
Medo de morrer fuzilado
Não sei qual santo que abaixou
Por pouco o rolo não lhe acertou
Na parede se espatifou
Vestiu carinha de anjo
Lalau não era qualquer marmanjo
Era fiel parceiro de bilhar
Veio-lhe uma luz
Apontou a árvore toda acesa
Falou do nascimento de Jesus
Não faria diferença na mesa
Onde come dois, tem rango para três.
Dina deu uma gargalhada
Então pode dizer ao ”home”
Trazer a marmita, senão vai passar fome
Se estava ruim, o pior ainda ia acontecer
Sintam o tamanho da cruz
Mal deu tempo da tarde escurecer
Palmas no portão
Era Lalau e não veio sozinho
Trazia no colo um cachorrinho
Pra ele não passar a noite de Natal na solidão
Agradecendo que o convite era um prazer
Estendeu a mão e o Lulu escapuliu e latiu
O Lulu do Lalau era um pequinês antissocial
Ouviram-se Miados pelo no quintal
Já estava bem escuro
Quando encontraram o gato,
De nome também João,
Tremendo atrás do muro
Situação parecia à salvo
Não estava não!
Dina fez um sinal
Porta da rua serventia da casa
Passou voando de tudo
Que tinha na mesa e no criado-mudo
Ainda bem que a Dina
Era ruim de pontaria e errou o alvo
Na correria, Lalau de Lulu no colo
Mão na peruca, arriscou comentar:
Eita, muié maluca, João!
Cala a boca, Lalau, não chateia!
Você fez nóis perder a ceia
E pra piorar
Hoje não tem sinuca
Onde nóis vai ficar?