CINZAZULADO

CINZAZULADO

Manhã cinza

Preguiça do sol

Escondido do amanhecer

Quem sabe cansaço

Do novo ano que mal começou

Silêncio de vozes

Ausência de cores

Ruas vazias

Gotas que pingam

Choro de céu

Nada de gente

Nada de vida

Ares pela janela

Que nada enxerga

Olhos abertos

Parecem cerrados

Ao longe a serra

Mantiqueira verde apagado

Negro do asfalto próximo

Muros sem cores

Insípidos de amor

Buracos em calçadas

Sem pés para cair

Sem cabeças a pensar

Nem repensar

Tudo parece pesar

Nos ombros arquejados

Nos ossos calcinados

Sem ser Atlas

De verões passados

Nada mais no horizonte

Parece foi ontem

Que sonhava-se amanhã

Mas tudo passou

E o futuro chegou

Sem chegar

Vive-se agora de esperar

Ou esperançar

O que nunca chega

Espera sempre delirante

Tudo como antes

Cinza que vira azul

Azul que se acinzenta

E segue o caminho

Pedras, areias, cascalhos

Asfaltos, buracos, poços

Fundos sem águas

Repletos de hidrocarbonetos

Não se bebe, mas caminha-se

Cada vez mais célere

Energético, solar, vento

Morrer-se-á de sede

Cheio de água salgada

A dessalinizar

Matar a sede

Tudo secar

Para logo adiante

Emigrar ou imigrar

Para cova rasa

Ou crematório

Quem sabe mares

Nunca dantes navegados

Sem urubus famintos

Comendo plásticos

Fenecendo engasgados

Pendurados em galhos secos

Sem folhas

Sem flores

Sem frutos

E assim chegar

Enfim ao

FIM

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 03/01/2020
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