CINZAZULADO
CINZAZULADO
Manhã cinza
Preguiça do sol
Escondido do amanhecer
Quem sabe cansaço
Do novo ano que mal começou
Silêncio de vozes
Ausência de cores
Ruas vazias
Gotas que pingam
Choro de céu
Nada de gente
Nada de vida
Ares pela janela
Que nada enxerga
Olhos abertos
Parecem cerrados
Ao longe a serra
Mantiqueira verde apagado
Negro do asfalto próximo
Muros sem cores
Insípidos de amor
Buracos em calçadas
Sem pés para cair
Sem cabeças a pensar
Nem repensar
Tudo parece pesar
Nos ombros arquejados
Nos ossos calcinados
Sem ser Atlas
De verões passados
Nada mais no horizonte
Parece foi ontem
Que sonhava-se amanhã
Mas tudo passou
E o futuro chegou
Sem chegar
Vive-se agora de esperar
Ou esperançar
O que nunca chega
Espera sempre delirante
Tudo como antes
Cinza que vira azul
Azul que se acinzenta
E segue o caminho
Pedras, areias, cascalhos
Asfaltos, buracos, poços
Fundos sem águas
Repletos de hidrocarbonetos
Não se bebe, mas caminha-se
Cada vez mais célere
Energético, solar, vento
Morrer-se-á de sede
Cheio de água salgada
A dessalinizar
Matar a sede
Tudo secar
Para logo adiante
Emigrar ou imigrar
Para cova rasa
Ou crematório
Quem sabe mares
Nunca dantes navegados
Sem urubus famintos
Comendo plásticos
Fenecendo engasgados
Pendurados em galhos secos
Sem folhas
Sem flores
Sem frutos
E assim chegar
Enfim ao
FIM