DRY WALLS
A estrada, aos olhos distraídos,parecia exatamente a mesma de sempre.
Na curva,
senti que tropecei as rodas numa erosão do tempo,
cicatriz cimentada ao acaso,de qualquer jeito
pelas segundas intenções
feita de asfalto tênue,
para que os fluxos apenas seguissem.
Pelos arredores
muros faziam túneis por todas as sobrevivências.
Ensina-se...
Que é preciso andar para frente, não importa como...
Sem nunca olhar para trás.
Então, acelerei um pouco,
para não perder as paredes e as tentações fugidias.
Ouvi que o motor rangeu oxidado de sustos.
Desacelerei.
As calçadas, eu as pude ver
pavimentadas das gentes sedentas,
todas aprisionadas em secos destinos emparedados,
que piscavam suas luzinhas descoloridas
para um novo tempo dos Homens,
que chegava velho e ansioso.
Ano Novo!- de mero calendário aleatório
das horas que nunca correm.
Mais uma curva mal sinalizada e segurei a direção
porque é fácil se desviar do caminho
nunca tracejado com placas sinalizadoras.
Descaso é o maior sinistro.
Quantas paredes soerguidas pelo tempo
das gentes vividas como fogos de artifícios...
Pelo retrovisor,
Vi que os muros se acumulavam...
Secos e coloridos
porque preciso e urgente
é se maquiar as imprecisões das dores.
Quantos destinos invisíveis
infiltrados pelos asfaltos inacabados.
Cenas se desenhavam avolumadas e apinhadas
numa aridez de congelar os ossos,
de desequilibrar os sentidos.
Pelo acostamento
Quantos castelos desabados de sonhos.
Acelerei mais forte,
como quem acelera o coração
para fugir do inferno.
E era dia de festa...se dizia
único destino perene e obrigatório
dentre as paredes dos nadas.
Logo mais, mais um tempo seria comemorado
Num frenesi
que racha os muros secos de concreto armado,
Sem nunca trincar os alicerces dos caos.
Ousei olhar no espelho...
para em mim buscar a reinserção do contexto humano.
De repente dei uma ré no tempo.
Dizem que voltar, além de impossível,
é arriscado..
É que teimosia é nobre arma de sobrevivência.
Foi quando ali aprendi que
para se compreender o todo
é preciso sim olhar para si.
E ato contínuo...
sempre é urgente se olhar para trás.