Na cozinha cozinhando o tempo

Eu faço uma linda carta explicando o tamanho da via láctea

e não funciona

assim como não funciona o beijo molhado

o puro sangue do puro vinho português.

De que vale esse vale de escória e lágrimas, se

não há jejum líquido de nenhum sorriso cheio de pedras translúcidas,

envergonhadas.

Há horas que o poeta é metáforas e cintila escravas estomacais e cancerígenos numa substância de cigarro

e as horas, que são apenas horas, fazem jus ao encontro da metáfora e da cachaça.

Pobre poeta melancólico, não tem com quem dividir a chave; como um baú sem fecho ou sobrancelha sem separação.

O espelho caricato dos dias do poeta não refletem, não são mais que a pobre

mesma coisa dos rios infectados — e o poeta, assim como a morte, é silêncio.

De manhã

que há o que comer

se exprime onde a única saciedade

não é o sono

nem as aves que cantam

mas

sim

a infância.

Kaio M Cardoso
Enviado por Kaio M Cardoso em 26/12/2019
Código do texto: T6827532
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