Conchinha fechada
Conchinha fechada que nunca se abriu
Culpado é aquele que um dia te feriu.
O mar é livro.
Pisando na areia molhada posso sentir
Tuas marcas salgadas que se fazem ouvir.
Sentir o não sentir.
Estranho é
Sentir tocar a água
Mas não sentir o pé.
O mar dança.
Leva e traz música
exalando diferentes nuances.
Tu me dás
Tu me tiras
Tua onda me atrai
E a vida me tira.
Oh, Mar triste
Que, à noite, chorando solidão
Aos marinheiros condena
Oh, Mar risonho
Que, durante o dia, cantando
Aos que choram consola
Eu que apenas de passagem te vejo
Me confundo entre desejos
Não sei se quero abrir
Ou deixá-la fechada
Se quero ouvir o teu musicado consolo
Ou sumir na imensidão de tuas águas
Mar vida.
Praias e precipícios
Conchinhas fechadas que nunca vão se abrir.
E Ouriços cansados de tanto sorrir.
Oh conchinha, por que te deixastes ferir?
Deus, tão pequena
Condenada pela infinitude das águas
Tão pequena
Corajosa
Mas ainda sim pequena.
Quase nada.
Pequena.
Possibilidades sufocadas pela dureza da água
Que de tanto bater
Furou
Oh, Minha querida conchinha, te jogo, de volta ao mar
Para que em seu sufrágio escolha
Se queres abrir ou fechar.
Já que, à mim, resta respirar.