ABSOLUTO

Rasguei a dor e a embrulhei na panela,

Queimei o frio com a neve da madrugada

E ensopei o lenço com a secura das lágrimas,

Porque o silêncio é zoada de primavera.

O mudo gritou diante do surdo ambulante

E este, ao escutar a quietude do barulho,

Manteve-se sorrindo, porque nada é entulho

Dos calados que tagarelam e são petulantes.

Rabisquei num rascunho sem lápis ou caneta

Enquanto a vida, gargalhando, me fez careta

Diante duma escada sem degrau e sem chão.

Trabalho ocioso é aquele em que tudo é nada

E, no deserto de uma multidão de camaradas,

A liberdade é uma prisão onde vive o coração!

DE Ivan de Oliveira Melo

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 26/12/2019
Código do texto: T6826969
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