Tristeza, Força Motriz da Poesia

Estou feliz, e esse sentimento é estranho,

Ainda que bom.

Estou feliz.

No entanto, não posso ser poeta

enquanto estiver feliz.

Não é assim que escrevo poesia:

Feliz.

E isso faz vir um sentimento infeliz:

Não posso escrever!

Só sei escrever quando estou triste

Só sei rimar quando triste o suficiente

Quando Baudelaires

e Gersons de Rodrigues

Me invadem as falanges

é que consigo escrever.

Até lá, até minha próxima tristeza

Eu vou ficar quieto, parado

Esperando ansiosamente por uma decepção.

E quando esta vinher, que ventura!

A mais sublime das poesias!

Ah! Tristeza! Força motriz da minha poesia!

Sentimento que move as palavras

e que inspira as rimas.

Tristeza, te digo:

Se ser poeta é, enfim, ser triste

Que Beelzebub carregue este ofício

Para o inferno!

e semeie as sementes da minha triste produção

para que crescam flores

do mal.

Raul Brasil
Enviado por Raul Brasil em 22/12/2019
Código do texto: T6824398
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