Tristeza, Força Motriz da Poesia
Estou feliz, e esse sentimento é estranho,
Ainda que bom.
Estou feliz.
No entanto, não posso ser poeta
enquanto estiver feliz.
Não é assim que escrevo poesia:
Feliz.
E isso faz vir um sentimento infeliz:
Não posso escrever!
Só sei escrever quando estou triste
Só sei rimar quando triste o suficiente
Quando Baudelaires
e Gersons de Rodrigues
Me invadem as falanges
é que consigo escrever.
Até lá, até minha próxima tristeza
Eu vou ficar quieto, parado
Esperando ansiosamente por uma decepção.
E quando esta vinher, que ventura!
A mais sublime das poesias!
Ah! Tristeza! Força motriz da minha poesia!
Sentimento que move as palavras
e que inspira as rimas.
Tristeza, te digo:
Se ser poeta é, enfim, ser triste
Que Beelzebub carregue este ofício
Para o inferno!
e semeie as sementes da minha triste produção
para que crescam flores
do mal.