MÚSICA E IMANÊNCIA

Sinto saudades de mim.

Afinal, ao longo dos anos,

Já fui tantos,

Mediante diferentes modos de sentir,

Saber e existir através do mundo e dos outros,

Que agora mesmo,

Não me reconheço.

Pouco sei de mim.

Há apenas o corpo

Através das coisas

Fora da representação,

Da palavra,

Convertendo o próprio pensamento

Em extensão.

Há unidade apenas no virtual da memória,

No devir da saudade da ilusão de ser,

De me confundir com o espaço.

A composição de uma vida

É como uma música que escuta,

Quase uma alucinação.

Sou o eco de uma melodia que fui,

Que flui,

E, através de mim,

Ainda ouve a si mesma

No compasso do tempo de sua escrita,

Do seu movimento e execução.