Linguagem

Eu descrevo arcos pelo céu com palavras aladas

E exprimo lágrimas como quem espreme palavras molhadas.

Eu desenho órbitas pelo espaço a vácuo

E alucino aspirando o pó cósmico das galáxias.

Eu conspiro contra os sentimentos mais instintivos e primários

E projeto ângulos no reflexo do espelho dos meus olhos.

Eu redijo tratados sem qualquer sentido ou importância

E me retroalimento da fome da minha própria ânsia.

Eu caminho pelas beiras de uma estranha melancolia

E gargalho como um louco nas ruas da cidade vazia.

Eu desdigo e me confundo na linguagem de mim mesmo

Na qual não sou fluente; só balbucio, a esmo.

Se me traduzo, me perco; não sou nenhum signo exato

E se me calo, me apago – ainda que calar seja sensato.

Faço versos tortos como quem tateia pelo escuro

E no íntimo de mim habita um outro, a quem procuro.

(mas ele me escapa).

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 20/12/2019
Reeditado em 13/01/2020
Código do texto: T6822970
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