Linguagem
Eu descrevo arcos pelo céu com palavras aladas
E exprimo lágrimas como quem espreme palavras molhadas.
Eu desenho órbitas pelo espaço a vácuo
E alucino aspirando o pó cósmico das galáxias.
Eu conspiro contra os sentimentos mais instintivos e primários
E projeto ângulos no reflexo do espelho dos meus olhos.
Eu redijo tratados sem qualquer sentido ou importância
E me retroalimento da fome da minha própria ânsia.
Eu caminho pelas beiras de uma estranha melancolia
E gargalho como um louco nas ruas da cidade vazia.
Eu desdigo e me confundo na linguagem de mim mesmo
Na qual não sou fluente; só balbucio, a esmo.
Se me traduzo, me perco; não sou nenhum signo exato
E se me calo, me apago – ainda que calar seja sensato.
Faço versos tortos como quem tateia pelo escuro
E no íntimo de mim habita um outro, a quem procuro.
(mas ele me escapa).