A praça vazia
A praça vazia
Eu era uma criança só.
Os pequenos insetos e as folhas tomavam a vez dos brinquedos que eu nem me lembro quais eram. Eu não sabia se era feliz ou infeliz; às vezes eu
achava que podia comandar o meu destino.
Por ser uma criança sozinha, eu quis muito de ter tido esse poder. Eu tinha alguns rituais que me faziam companhia, como ir à praça abandonada, a praça que ninguém ia.
Os poucos casais que iam lá, provavelmente
para se esconderem, estavam invadindo o meu
espaço, a minha praça vazia.
Cada vez que eu chegava, era como se eu fosse encontrar alguém, quem sabe a fada má,
ou a bruxa madrinha.
Uma criança curiosa como eu era, é claro que não deseja o comum, desejava brincar com João e Maria duas crianças que como eu, escreviamseus destinos com criatividade.
Mas só tinha eu e a praça, a praça vazia e eu.
Uma criança em branco criando o seu interior,
em contato comigo mesma, já desde pequena muito sensível e arredia. Fugindo com medo do externo, criando os meus personagens, procurando formas nas paredes, inventando lugares só meus.
Construindo sem saber um mundo, tecendo
no inconsciente redes que me acompanhariam por toda vida.
Fevereiro de 2012