GRUTA

GRUTA

Eles se mostram perfeitos

como se saíssem de um livro de regras

coram ao errar,

frio na barriga,

escondem o erro

põem-se a chorar

ou acusar

põem a culpa no outro,

na parede ou no gato

fazem qualquer coisa

pra não assumir

o erro de fato

E se são assim

tão certos

então ninguém por certo

lhes merecem

e ainda que merecessem

ai que vexame

se as máscaras da perfeição

no meio do palco da vida

desaparecessem

E assim, vão

os falsos vínculos humanos

vivendo de inventadas e solitárias perfeições

Esquecem-se os senhores inventores

que são as imperfeições que criam

reais conexões

É que

quando conto que estou sofrendo

nasce o remendo

O outro desce do salto

mostra que também sofre

segura-me na mão

e vamos os dois

para o alto

Se finjo que sou perfeita,

que não erro e não me desespero

Não digo quem eu sou

só o que quero

e com tanta mentira

como se pode achar alguém sincero?

Se finjo que sou perfeita

para não ser chamada de boba

quem me ouve

,também quer ser perfeito

e juntos,em manada

edificamos uma bobagem viva e infinita

Irrita

Se não gosto do meu eu

e não o apresento em público,

escondo-me no que todo mundo é,

visto o que todo mundo veste,

alcanço o que dizem ser sucesso

e de verdade

a mim,

nunca dou acesso

Sirvo em bandeja de vento

a casca da fruta

e o miolo não confesso

enterro com lágrimas na gruta.

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 17/12/2019
Código do texto: T6820915
Classificação de conteúdo: seguro