GRATO ETERNO

Minha alma-gêmea conhece meus encardidos,

blefes, rasgos e rouquidões.

Sabe das minhas farsas, engasgos, delírios,

paixões, senões.

É testemunha de cada motim, cada susto,

cada sufoco, cada benção, cada anjo.

Minha alma-gêmea é fiadora dos meus tesouros.

festas, revoluções, inundações, aberrações.

Só ela consegue destravar meus fracassos,

choros, delírios, respingos e desforras.

É alma-gêmea que não se corrompe,

não se trapaceia, não se desarma,

não se desencanta, não se desencarna.

Tem autoridade pra parar meu show,

desligar minha voz, brecar meu coração,

esmigalhar minha razão.

Minha alma-gêmea se faz passar por fiapo,

calo, lastro, algoz, Deus e tumor

quando bem entender.

É folgada nos encantos, nos cheiros,

nas alegorias, no berrante, no nó.

É sagaz nas ataduras, nos mistérios,

nos acordes, nas esganadas da vida.

É alma-gêmea que destrona o tempo.

o chão, o ar, a morte, o pó, o talvez.

Sou grato eterno pelas suas garras,

cheiros, sombras, vozes e alegrias.

Sou grato eterno pelas suas rebarbas,

lixos, ciladas, chagas, fedores e desatinos.

Especialmente os desatinos.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 15/12/2019
Reeditado em 15/12/2019
Código do texto: T6819196
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