O TAL DO ZÉ

Zé do pé preto

não era tão preto quanto dizia seu nome

era um velho grisalho

moreno, alto, robusto

onde sua história inicia-se em 21 de abril.

Morador da vila

misturava-se com os outros

no boteco fazia hora,

sempre na companhia de seu cavaquinho

onde o cujo sabia de cor suas tristezas.

Suas unhas grandes

tocavam o dó, ré, mi, fá

sua solidão seguia com sol lá si

às velhas notas

que alegravam a mocidade da vila

botavam todos na roda

e à gira corria.

Durante toda à infância

viveu no Nordeste

conviveu com à seca,

conviveu com a fome

onde tudo teve um fim

quando à cigana da saia rodada

apareceu-lhe

usando às pontas do dedo

traçou à sua vida na terra seca,

não contavam com o vendaval

que veio e levou às singelas palavras.

Mas

Zé do pé preto

havia de ter guardado

às palavras escritas

seguido das falas.

Quem viu, viu

quem ouviu, retalhou

o Zé, todo humilde

pôs sobre às costas

à sua trocha

procurou por Rosinha, à tal cigana

e disse-lhe:

- Rosinha, tu que tens a formosura,

a doçura de uma moça do cangaço

tens que me acompanhar,

pegaremos o primeiro trem

andaremos feitos andarilhos

perdidos no sertão.

Rosinha

uma mulher livre

que passou à vida toda

percorrendo à terra seca

sozinha, sem marido, sem filhos

estava à procura de sua lenda,

toda entristecida

negou-se a ir

pôs fim.

Desatinado

o pobre inconformado

deu à cara e foi-se para São Paulo.

Tanto ralou

tanto sofreu

vice-versa

formando-se o doutor da vida.

Gabriela Lago
Enviado por Gabriela Lago em 14/12/2019
Código do texto: T6819136
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