A RODA SEM LIMO

Como funciona o mundo?

Como saberia se nem dele sou, se nada me assemelha à essa turba vulgar?

Serei pária enquanto pulsar o sangue e o maldito ar encher o balão do meu peito

Farei as mesmas travessuras dos meninos sádicos que não conhecem o amanhã

Correrei entre os gentis como um homem nu através do canavial

Que sei da vida?

Só o pouco que ela me deu...

A carga leve da constante melancolia, o pesar das meias-verdades, o gozo do engano eterno

As certezas falsas e brilhantes que ouvi de todas as bocas que se abriram aos meus cansados ouvidos

Os ventos das mudanças antigas, aquelas que valem a pena

O trabalho sem pagamento, a roda sem limo, a pedra fora do caminho

Coleções de todos eles debaixo da minha cama, em cima do teto, longe da vista

Falácias novas com resultados esperados

Maldições não testadas prontas para a celebração e seus convidados

Se aprendi com tudo Isso?

Fui bom aluno, persisti na mesma direção

Sem bússola e só com a intuição

Algo há de ficar

Algo há de florescer

Hoje ou amanhã

Qual será o fruto?

O do gosto acre, da lambida sangrenta

Do vendaval, do imparável

Da chuva e da morte súbita

Houve um legado?

Vários, incontáveis

Que resistem e ensinam

Aos que sabem ouvir

Aos íntimos da queda

Como eu...

Velho, solitário, sereno e moribundo por natureza

Vivo como a morte e destinado à ela como toda vida.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 12/12/2019
Reeditado em 13/12/2019
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