A RODA SEM LIMO
Como funciona o mundo?
Como saberia se nem dele sou, se nada me assemelha à essa turba vulgar?
Serei pária enquanto pulsar o sangue e o maldito ar encher o balão do meu peito
Farei as mesmas travessuras dos meninos sádicos que não conhecem o amanhã
Correrei entre os gentis como um homem nu através do canavial
Que sei da vida?
Só o pouco que ela me deu...
A carga leve da constante melancolia, o pesar das meias-verdades, o gozo do engano eterno
As certezas falsas e brilhantes que ouvi de todas as bocas que se abriram aos meus cansados ouvidos
Os ventos das mudanças antigas, aquelas que valem a pena
O trabalho sem pagamento, a roda sem limo, a pedra fora do caminho
Coleções de todos eles debaixo da minha cama, em cima do teto, longe da vista
Falácias novas com resultados esperados
Maldições não testadas prontas para a celebração e seus convidados
Se aprendi com tudo Isso?
Fui bom aluno, persisti na mesma direção
Sem bússola e só com a intuição
Algo há de ficar
Algo há de florescer
Hoje ou amanhã
Qual será o fruto?
O do gosto acre, da lambida sangrenta
Do vendaval, do imparável
Da chuva e da morte súbita
Houve um legado?
Vários, incontáveis
Que resistem e ensinam
Aos que sabem ouvir
Aos íntimos da queda
Como eu...
Velho, solitário, sereno e moribundo por natureza
Vivo como a morte e destinado à ela como toda vida.