Quando escrevo
Quando escrevo, me transporto,
sento-me no banco de uma praça qualquer,
a qualquer hora,
entro na alma dos que perambulam
pelas ruas,
sofro com eles.
Esvazio minha alma.
Gosto quando me falta a inspiração,
ameniza o aperto em meu coração.
Do nada, volto,
vou rabiscando velhas casas, fumaças pelas
chaminés,
jardins... borboletas,
aves à sobrevoar, flores ao sol,
abelhas sem mel, à esmo.
Os meus rabiscos me absorvem,
e me levam à lugares que não sei.
Sem querer me reencontrar,
sem escrever o que me vai por dentro,
querendo outros ares, mas, com vontade de ficar.
Minhas letras vão se arrastando, e me levam
para bem longe de mim,
perco-me por caminhos estranhos,
volto, arranhando páginas, sem vontade de nada,
rabisco enfim a solidão, e me calando,
penso,
quantas linhas falsas, e tortas, escreveria.
Os sonhos fogem-me por entre os dedos,
a angústia bate à porta da minha alma,
que permanece fechada e sem inspiração.
Esqueço o mundo, com tudo o que não me pertence,
tudo fica para trás, até esqueço que existo.