Da fragilidade das coisas
Todos os astros que brilham no céu
Dão mostras do que há de divino e
Não-natural na esfera da vida; ao
Mesmo tempo me fazem pensar
Nas coisas com as quais tenho sonhado,
Naquilo em que penso todas
As manhãs, quando cruzo a barreira
Do sono e venho para a realidade,
Que me espera, turbulenta,
Cheia de desvios para lado nenhum.
Sou parte desse caos:
Frágil criatura de Deus.
Antes de me mover, já sinto que
Estou fugindo, não para a esquerda
Ou para a direita, mas para o alto,
O lado mais frio da minha alma,
Quando o mundo dissolve as pala-
vras. E todas as palavras, que antes
Conheci, são engolidas pela dádiva
Do silêncio que me tomou, que
Se apossou do quarto e dos utensílios,
Dos lençóis sujos de suor, da falta
De amor, e do amor em demasia.
Em dado momento, dissipando o
Vazio, a luz do sol alimenta os
Tecidos do sonho, e estou de
Volta ao chão desconhecido. As
Chamas do amanhã são de rara
Cor, como uma águia que voa
Sem fim, pela atmosfera, e o azul,
E as corredeiras. Sobre e sob, em
Tempos distintos, mas com a
Mesma imaginação, o mesmo
Sabor e a vontade de construir, de
Acalmar, de aniquilar, de proteger.
Vinho tinto, branco, de nenhuma
Cor, de todas as cores, bebi e
Me santifiquei sem ao menos ter fé.
Foi o passado e não o futuro, foi
A riqueza e não a pobreza, foi a
Fome e ao mesmo tempo o que
Não podia existir, mesmo debaixo
Das árvores sonoras, quando o
Vento compôs a melodia das almas.
Foi o agora e não o desperdício, foi
A saudade e não a presença, foi
De manhã e não quando o sol
Se refugiou nos píncaros à oeste,
Que tudo se fez e se desfez, que
As últimas estrelas se refugiaram
Na mais indistinta eternidade.