ABOIO DOLOROSO

Ao inestimável Rolando Boldrin

Papai era desses vaqueiro, ditoso e venturoso...

Tinha um gadinho de nada, coisa de sertanejo!

Gostava de um tempo assim nublado, chuvoso,

E de ir à mata buscar o “boi brabo”, Carquejo...

De nossa casa o aboio se ouvia! Bem longe...

Sabíamos que sua vida, de vaqueiro e valentia,

Pra todo mundo o amor e a felicidade já valia!

Era ignorante, mas fiel às regras... Feito monge!

Papai uma tarde, dessas já bem detardizinha...

Saiu no seu cavalo Piúnga, com passos lentos,

Procurar Michuguinha, sua estimada vaquinha...

Boca da noite chegando... E o aboio aos ventos!

Já com a lua clara, num talhado que se avança...

Ali encontrou sua vaca, reconheceu pela marca,

Estava morta a coitada, já não havia esperança!

Apiou, tirou o chocalho, com os braços a abarca...

Nada disse, apenas continuou seu aboio doloroso!

As lágrimas regavam o chão, esturricado do sertão...

Sem chuva há meses... Valente, abandona o gibão,

Chapéu de coro no armador da rede... Ele choroso!

Papai, sentou-se na cadeira preguiçosa no terreiro...

Olhar fixo no céu, parecia dizer mesmo, lá vou eu!

As estrelas lhe respondiam... E no sertão inteiro...

Ouviu-se o seu aboio, pela última vez... Ele morreu.

Papai se foi para sempre! E quando vou ao sertão,

Ali mesmo perto da casinha de palha e chão batido...

Ouço, Deus, como se fosse o meu velho pai, então,

Com seu aboio sentido... E o meu coração abatido!

Poeta Camilo Martins

Aqui, hoje, 11.12.12

09h01min [Manhã]

Estilo: Trova