ELEGIA DE DEZEMBRO

1.

Somos dois na estrada:

A estrada me fala

De coisas que eu

Não sei, nem deveria,

Como um riso solto.

Por via das dúvidas,

Cometemos erros, um ou

Dois, todos os dias, num

Ritual diário de

Solidão compartilhada.

2.

Cumpri todas as regras.

Domesticado, como um

Boi, gado do pasto

Social. Sou o filho

Menor do meu país.

Segui todos os passos.

Éramos tantos, tão

Iguais que nada nos

Separava, nem a vida,

Tampouco a morte.

3.

Irrisório destino: o meu.

Mas a vida que cada um

Escolhe, só depende das

Coisas que o tempo consome,

Os cabelos brancos, as mãos.

O destino era uma espécie

De improviso. Sempre fui

Tão ruim de criação de ideias.

Do nada não sei nada; do

Tudo, não sei o que seja.

4.

Você já salvou o tempo

Com sua voz de anjo

Já cumpriu o dever de

Estar acima do caos

Das rosas, da fome de ser

Você é a cura para a doença

Do mundo; e, ao mesmo

Tempo, veneno saboroso

Como a morte, o rio do

Cosmos, à margem da alma

5.

Vaga no espaço como

Objeto esquecido por

Astronautas. Perdida,

Levando estrelas consigo,

Sem que o futuro perceba.

Quando a noite está

Totalmente escura,

Por onde você andaria?!

Flutuando, docemente,

Por entre pedras ancestrais.

6.

Quando te fores, leva-me

Contigo, porque não sei

Como vim parar deste lado

Do rio. Já fui tão bom,

Mas não lembro como me

Transformei num paradoxo.

Se foi com o tempo, ou a

Vida quem me fez assim,

Vazio de todas as coisas e,

Ao mesmo tempo, cheio.

João Barros
Enviado por João Barros em 06/12/2019
Reeditado em 06/12/2019
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