Na estrada.

Deitado na estrada um cão me olhou,

ele suspirava com dificuldade

parecia dividir sua atenção

entre mim e sombras.

Não havia temor em seu rosto creme,

só aceitação.

Ele não contemplava a vida que teve,

ou estava arrependido de não roer

um osso, raiva também não pairava nos seu olhos,

não ouviam-se latidos revoltos, afinal,

o outro lado não parecia arriscado.

Quando me aproximei, ali sem grandes

aspirações em salvar-lo, o seu olhar cresceu, vi a surpresa e o medo, me pergunto, se ele sentiu esperança, por fim

foi-se, simples, sem discurso.

Na estrada agora, antes sombras, ossos e suspiros

agora só eu, na companhia do eu.

Paulo Alcides
Enviado por Paulo Alcides em 05/12/2019
Código do texto: T6811965
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