O Lobo da Estepe

De tantas quimeras, essas possíveis,

De tantos sonhos e delírios senão,

Como pôde se dar esse sonho quase'vão,

De uma paixão de razões rizíveis?

Eu sou um Lobo da Estepe, um noctófago,

Predador cinza, sombrio e insaciável,

Como pude me apaixonar até o âmago

Por uma Cordeira, assim tão deleitável?

Bem quero — e assim confesso —

Devorar-te até os ossos, cravar-te

Os dentes fatais! Meu alimento néscio!

Cortar, moer, morder e rasgar-te!

Queria mesmo era sentir teu gosto,

Provar da tua carne, do sangue teu,

Antes do teu langue e do teu gozo!

Ah! Alimentar o insaciável desejo meu!

Eu quero te comer, te devorar até o fim,

Eu quero a tua pele alva como marfim,

Quero ver teus pelos avermelhados em rubro sangue,

Enquanto me deleito no derradeiro sabor do teu langue!

Ah! Chega a lua cheia, a noite me possui,

Elevando-me aos desejos que á alma prostitui,

E já não me aguentando de tamanho desejar

Saio à noite para esse meu amor caçar.

Vou atrás de ti, é melhor estar preparada,

Se correr de mim eu vou te pegar...

Ah! Amor! Nesse crepúsculo de alvorada

Não conseguiria dormir esta noite

Sem antes provar desse teu sabor,

Sem transar com esse teu langor!

Sem antes... Te devorar!