(sem título)
Caminho pela rua por onde caminho a
cada dia
olhando para os lados e a frente,
para os céus e, às vezes,
voltando-me àquilo que está atrás.
A cada suave movimento d'olhar
capto algo que
na rua por onde caminho todos os dias
nunca, dantes, vi.
A cada dia, o mundo mostra-se
inteiramente novo.
Inteiramente re-nascido,
com todas as cores da luz visível para
serem conhecidas
E toda a geometria natural
das formas
para serem contempladas.
Caminho pela rua onde
caminho a cada dia
Ouvindo os sons que nascem e
retornam à potência do Silêncio,
o assobio do seu Sabiá:
Inteiramente novo
e único em toda a Existência,
o aviso do copo de café preto, diligente e doce,
tangendo o balcão de suor e mogno
E o soar das folhas amarelas e secas que atapetam o ígneo chão sob meus pés suaves.
Caminho pela rua a talude
tocando as plantas e troncos de mil texturas, as mãos estendidas, e desvelando-me ao abraço terno da brisa estival.
Delicio-me, inocente, com os
aromas das flores lilases que abrem-se com o crepúsculo das horas e adormecem na alvorada
E agradeço por sentir os aromas agres da natureza retilínea e pétrea.
Pois estou viva.
Mais do que isso: experiencio a Vida
Com os sentidos desobstruídos, puros.
Por isso caminho pela rua
por onde caminho a cada dia
olhando para os lados e a frente, para os
céus e, às vezes
voltando-me àquilo que está atrás.