NADA
Venho a ti numa noite escura,
A solidão, a caluda no silencio são irmãs
Que de mãos dadas fingem ser amigas,
E o olho do nada espreita, antevendo o tombo
Teu pé, ante pé procurando o caminho entre as brumas.
Num corredor frio, o toque das plumas brincam com o teu medo.
Pega então minha mão e vem,
Pois se não há mesmo qualquer esperança... vem!
Para onde? Não importa...
Não há caminho, não há portas,
Só o nada, fora do tempo
Num percalço, o torvelinho e o som do vento
Que uiva, à guisa da última música, a do adeus.
Na exatidão de um lugar onde não hás de chegar
O vazio é solto, o espaço é pouco
Ou nada, nada há para se apegar...