Ansiedade de tempo e de viver

O tumulto do presente incomoda.

Há ansiedade em tudo.

Uma angústia que transborda.

As pessoas correm sem saber por quê.

Passa-se rápido e nem se viu.

Tudo vai rápido e logo se exauriu.

Num instante em que se vive, já não se vive, passou.

O nascer do sol urge e quando menos percebemos o crepúsculo já apossou.

Somos efêmeros e tolos, queremos aprisionar o tempo na nossa própria prisão passageira.

Somos tolos e passageiros. Sequer entendemos a vida faceira.

Há pressa de viver.

E na pressa em que nos moldamos, agora desejamos voltar ao tempo de antes, aquele que esgotamos.

Não há tempo para viver.

Um fio de consciência humana grita o óbvio: vá devagar, a vida passa!

Mas somos teimosos, nos apegamos ao caos frenético das cidades.

Ligeiro, rápido, corre, anda, vai – essência escassa, fonte das morbidades.

Queremos apressar a vida, que jogada no tempo se esvai – lânguida, desgastada, afobada.

E no desejo de restaurar o que foi perdido, falhamos e nos damos por vencidos – vitória da ansiedade amada.

E assim fomos.

Deixamos de pensar o pensamento, filosofa o tempo observador.

Deixamos de cuidar do corpo mortal, chora a natureza no seu torpor.

Deixamos de amar aquilo que não se compra, fala o sábio pensador.

Deixamos de pintar devagar a paisagem da vida, conclui o poema, o poeta apressador.

Carla L. Ferreira

Goiânia

01/12/2019