A TEIMOSIA DA MÁGOA
Algumas feridas saram com a bênção do tempo.
Já outras, teimosas como elas só,
não arredam pé de cicatrizarem de vez.
Ficarão lá no seu lugar, numa eternidade eterna,
firmes e fortes cada vez mais.
Parecem que estão à frente de uma missão,
vocacionadas na ânsia de perdurar pra sempre,
imbuídas do alvará que lhes faz
permanecer escancaradas, impassíveis,
sem não há nada que as demova do seu lar.
Essas feridas são certas mágoas que
nos acometem e por mais que tentarmos
curá-las, prevalecerá uma derrota triunfal.
Essas mágoas podem se supor dizer hibernadas,
podem se supor deixadas de lado,
podem se supor perdoadas.
Mas é tudo da boca pra fora.
São marcas indeléveis em carne-viva,
que sangram jorrando e cuspindo sua dor,
que berram as câimbras de uma tristeza
sem se calar nunca.
São chagas que nem Deus chega perto,
quanto mais tentar fazê-las sumir.
São chagas que sobrevivem às catástrofes,
ao fim do mundo e à morte por infinitas gerações.
Nunca dirão adeus derradeiro,
nunca mesmo.