Luta
Eu amo os vagabundos sujos
que vivem no seio da cidade
sem profissão, sem identidade,
em seus imundos refúgios.
Amo a sordidez, a miséria,
a luz fatal que os transfigura,
amo sua louca procura
pela alma livre da matéria.
Amo a renúncia que os liberta,
sua dor, sua dor resignada,
a boca do gás sempre aberta,
a arma sempre carregada.
Amo tudo o que é marginal,
o que não tem compromisso
com nada, o que não tem, por isso,
que dar satisfação social.
Amo esses seres alquebrados
que plangem violões funéreos,
amo a bíblia dos desgraçados,
amo a morte nos cemitérios.
Amo essa raça como a mim,
pois deles é a salvação.
Amo o pobre como a um irmão,
pois todo pobre é um serafim.
E amo essa chama impoluta
que os consome e lhes dá a graça.
Bebo da sua mesma cachaça
e estou com eles na mesma luta.
Vagner Rossi