Luta

Eu amo os vagabundos sujos

que vivem no seio da cidade

sem profissão, sem identidade,

em seus imundos refúgios.

Amo a sordidez, a miséria,

a luz fatal que os transfigura,

amo sua louca procura

pela alma livre da matéria.

Amo a renúncia que os liberta,

sua dor, sua dor resignada,

a boca do gás sempre aberta,

a arma sempre carregada.

Amo tudo o que é marginal,

o que não tem compromisso

com nada, o que não tem, por isso,

que dar satisfação social.

Amo esses seres alquebrados

que plangem violões funéreos,

amo a bíblia dos desgraçados,

amo a morte nos cemitérios.

Amo essa raça como a mim,

pois deles é a salvação.

Amo o pobre como a um irmão,

pois todo pobre é um serafim.

E amo essa chama impoluta

que os consome e lhes dá a graça.

Bebo da sua mesma cachaça

e estou com eles na mesma luta.

Vagner Rossi

Sarauvirtual
Enviado por Sarauvirtual em 26/11/2019
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