O poema ideal

Nunca mais voltei ao lugar do meu suplício

Lá, onde compus o poema ideal

E me senti completo, desejei não ser.

Era desajeitado quando em criança,

Tropeçava na alma das coisas e no vento

Que se perdia pelas manhãs de sol.

Fui o menino sozinho no canto;

Ainda sou, mas menos triste, talvez

Porque tenha aprendido a chorar.

De quantos desabrigos um menino

Precisa, para começar a entender a

Solidão? Me pergunta um estudante de

Carmelitas.

Nunca mais soube dizer

O nome dos pássaros, eu que era

O melhor cantor do bando, o rouxinol

De vários céus.

Hoje, completando uma aquarela,

Sou um homem de duas

Cores, a do sim e a do não, eis o meu

Suplício, o vazio dos não eleitos.

João Barros
Enviado por João Barros em 25/11/2019
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