Alzheimer

Hoje acordei com o firme propósito de

Descobrir quem sou, e onde estou

Não sei há quanto tempo estou aqui

Esperando quem possa ouvir-me.

Fiquei o dia inteiro sentado nessa cadeira

Esperando você voltar, assim como me pediste,

Fiquei olhando fixo para o portão branco

Por onde prometera entrar quando voltasse.

Amanheceu e eu ali sentado, sem sair do lugar

Esperando tua volta, agora já alto anda o sol

Sem banho, sem dormir e sem nada ingerir

Prostrado estou aqui nesta velha cadeira a te esperar.

E o tempo foi tanto na paciência da espera

Que não percebi há quanto tempo estou aqui sentado

Temo que não tenha entendido direito

E assim passei toda minha vida sentando.

Nesta velha cadeira esperando você, e não percebi

Que velozmente a vida passou à minha frente

Empurrando e mudando tudo à minha volta

Enquanto eu permaneci assim sentado na espera.

De não sei mais o quê, ou por que estou aqui

Enquanto esperava sua volta percebi que muitos choravam

Também passou por mim com seu manto negro ela a morte

E por sorte ou falta de tempo continuei nesta cadeira sentado.

Vários dos que passavam pararam e perguntaram

Alguns trouxeram água e comida outros, tempo e boa conversa

Senti frio e calor também passou por aqui a menina alegria

De meus olhos, cantando e encantando a todos.

Até meu cão que por muito tempo esteve por aqui

Desapareceu, não sei por onde anda, penso que a moça

Do manto negro o levou, ele é assim vai com qualquer um

Hoje esta mais frio do que o dia de ontem.

Já bebi do que me foi oferecido, o gosto amargo

Do veneno escorreu pela minha garganta abaixo

E nada aconteceu, continuo aqui sentado

Já os que passam não conheço seu rosto.

O frio corta a pele, não tenho noção

De tempo e espaço, já amanhece?

Pergunto ao vulto a minha frente

Quem sou eu? Sem me responder vai embora.

Uma nevoa úmida cobre tudo, já não vejo

Abandonado estou nesta cadeira velha que não sai do lugar

Não conheço as pessoas que estão a minha volta

Não lembro meu nome, não sei o que faço aqui.