Lugar em sensação
Dos ventos que cortam os morros lá da serra,
Só sei que soam
E ressonam o cotidiano que acontece
Como se todo dia fosse pó de poesia
Ou mesmo cheiro de café fresco.
As gentes desses cantos, nos fios de terra que são esse lugar,
Vivem das sensações das estações,
Que ora são cinzas e frescas, ora acaloradas
Ou mesmo frias, como seus julhos e agostos
Tecidos no retinto calor das festas.
Eu me escrevo nas gravuras que o sol faz,
Nas paredes dos casarões que têm séculos de idade,
Trincadas pelo tempo que sua história não mente;
Me escrevo no que sinto quando retorno de viagem,
E ao me aproximar sinto o diminuir da temperatura
Pelo frescor do ar cheiroso de mato que as estradas têm.
As areias das praças se encerram pelos tapetes das casas
Agarradas pelos pés que passeiam nas tardes ou fogem das escolas,
Dando enredo e cor para os bancos dos jardins.
Meu verso ali fica solto;
Solto e perdido no que vivo, vejo e não registro
Sentindo os aromas de café de toda hora,
Doces caseiros e pão quentinho,
Todos vindos no balanço dos ventos da serra
Que dançam folhas e levam meus pensamentos embora.
Poesia selecionada para a coletânea Fliva 2019, da Feira Literária de Valença, RJ.