GRITO NEGRO

Precinho vil, negrinho servil, nem nasceu o siso,

Pregoeiro abre sorriso, anunciando próximos lotes:

Preciosas prendas, prontinhas pra emprenhar

Predadores à espreita desejam experimentar os dotes

Valei-nos Xangô, Ogum, Iansã

Negro quer sonhar um amanhã

Não me permita morrer de febre terçã

Apanha de pequeno pra aprender a prender o choro

Trabalha sem espreguiçar, chicote a lanhar o couro

Pode arder a pele, pele negra não serve para coser

Praga de vida é essa, apenas promessa qualquer prazer

Valei-me Oxóssi, Omolu, Iemanjá,

Socorram o negrinho sarará

Afastai-me dos males, Saravá!

De preconceito em preconceito distante a paz

Cabeça sempre a prêmio, pretexto não faltará

Não adianta soprar feridas, a dor não passará

Alivia as mais doloridas, faz prece aos orixás

Valei-me a proteção de Ossaim

De joelhos lavo as escadas do Bonfim

Afastai tanto sofrimento de mim

Escurece o arco-íris na linha do horizonte

Sangra o escorrer do suor na fronte

Poça de lágrimas a alagar Palmares

Liberdade, liberdade ouve-se pelos ares

Valei-me Oxalá! Poderoso criador

Escutai nossos gritos de clamor

Espalhai pela terra o amor

À benção! Todas as vozes em alerta

Mãe Menininha

Zumbi e Carolina...

Gangazuma e Clementina

Não importa quanto aperta a mordaça

Dragão do Mar...

Melodia e Itamar

Marielle e Pixinguinha

Levem à frente a honra da raça

À benção!

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 15/11/2019
Reeditado em 15/11/2019
Código do texto: T6795161
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