OLHA A SUA COR!
- Olha a sua cor!
Diz a fúria insana
do dedo em riste
de quem insiste
em desumanizar.
- Sim, eu olho a minha cor!
Eu ergo o espelho da memória,
me olho nos olhos
e encaro a minha cor.
Mas, como olhar para minha cor
se fui ensinada a não me olhar?
Se fui ensinada a não me ver?
Se fui ensinada a me ‘colocar no meu lugar’?
Se fui ensinada a me odiar?
Como olhar para minha cor
se minha história me foi arrancada?
Se minha língua foi apagada?
Se meus deuses foram demonizados?
Se meu conhecimento foi ignorado?
Fizeram-me acreditar que não havia mais o que olhar.
Mas, meus olhos não foram cegados.
Permaneceram firmes
buscando a minha cor em meio a neblina.
- Olha a sua cor!
- Sim, eu olho a minha cor.
Eu olho nos olhos da história do meu povo negro.
Eu olho nos olhos das dores do meu povo negro.
Eu olho nos olhos das conquistas do meu povo negro.
Eu olho nos olhos das lutas do meu povo negro
e, sem receio de seguir olhando,
eu digo como dedo em riste
de quem resiste
- eu sinto muito orgulho do que vejo.
Solange Santana
14 de novembro de 2019