Nota de falecimento
No fundo do meu bolso rasgado pela costura mal feita,
a nota resistiu de cair no abismo da calça, escorregar por minha perna e terminar numa viela, melhor para mim.
Já não perdi uma nota para traduzir minha carestia momentânea, para gastar nessa madrugada esmorecida de intercalados espaços.
O bar sem portas trancou os trincos, nem sinal do adstrito trincando, tento negociar uma talagada com a voz afônica que vem sei lá de onde, não tinha troco, enfio a mão no bolso pego a nota e coloco no outro bolso, onde a costura não se desfez, ando em passos largos pelo largo da avenida, mesmo sem as cangalhas dos olhos vejo que nem o outro dia se aproxima, vou embora e jogo praga nesse puto dinheiro, chega de esmiuçar delírio com uma nota sem valor para tal ensejo.
No outro dia a nota esquecida no bolso, se desfaz em pedaços ao rodopiar sem rumo pela maquina de lavar, triste sina de uma nota que fez a madrugada se conspirar sem me fazer delirar.