Eu & eu

Sou filho de trabalhador,

Amante do conhecimento,

Reflexo das gerações,

Sou o futuro no presente momento.

Adstrinjo o doce sabor da ilusão,

Devoro livros que me trazem remoção,

Porque meus sentimentos são restritos,

Meu amor, nem sequer sabe o que é paixão.

Perturbo a paz, luto sem grito,

Sussurro lágrimas berrantes,

Aprecio as dores que me disciplinam,

De vez em quando, apavorantes.

Não é maltrato, não é tortura,

É viver num mundo arriscado,

É sonhar o quase impossível,

É ser a diferença e ser ignorado.

Não vendo meus olhos,

Tampouco cedo minha mente,

Para preencher outra vazia,

Enquanto estou consciente.

Arrisco porque o medo me inveja,

Desisto porque sei do perigo final,

Mas continuo a errar, “voar” e aprender,

Como um pardal no vendaval.

Tenho minhas dúvidas e certezas,

Assim como minhas defesas,

Tenho minhas fraquezas ,

Faz parte da minha natureza.

Não busco alguém para amar,

Pois tem mais o que na vida aproveitar,

Nem rebusco histórias para contar,

Tenho mais o que falar.

Às vezes é mais fácil sentir,

Não se pode falar sem omitir,

Pequenos versos que aplaudi,

Mesmo que compreensivos, eu menti.

Se há quem cure uma emoção,

Esta que contamina meu coração,

Adoece aos poucos minha solidão,

Resplandece à luzes puras, a escuridão.

Elevo o pensamento ao alto,

Supero tudo em um salto,

Para longe do palco,

Perdido no fino asfalto.

Deixo tudo confuso,

Acordando como um intruso,

Percebo meu dom em desuso,

Sou um “livre recluso”.