O lobo que não era mau
Era uma vez... um lobo mau
Com dentes afiados e faro infernal.
Morava sozinho, em toca, no matagal.
À noite vivia rondando o quintal.
Escondia-se por entre o bananal
De onde se via os olhos luminosos do chacal.
Ele queria comer galinha ou pintinho,
Cabrito ou cordeirinho,
Mas gostava mesmo era de porquinho.
No chiqueiro bem quentinho,
O lobo chega de mansinho
E pega um leitãozinho.
Este lobo de cara feia
Tinha no pescoço uma veia,
Que mais parecia uma teia.
Na toca suja, de terra e areia,
Amarrou o leitão para a ceia
Para comer com leite e aveia.
No chiqueiro, a mãe notou o faltante
E começou a gritar apelante,
Para toda a vizinhança do quadrante.
As aves vieram em rasante,
E todos os animais em presença marcante
Se uniram para o levante.
Dividiu-se a bicharada
E de forma muito ousada,
Ao lobo, se iniciou uma caçada.
Cães cheirando qualquer pegada,
E todos os animais de forma ordenada
Na procura do leitão e da fera culpada.
Encontram, então, o abrigo
Que mais parece um jazigo
Onde morava o nosso inimigo.
O lobo percebendo o perigo
Libertou o filhote do castigo,
E começou e pedir como um mendigo.
Disse que não tinha família e nem comida.
Morreria sozinho na vida,
Que o perdoassem e ele sairia em partida.
Depois dessa desculpa sofrida
A bicharada ficou dividida,
Perdoavam-no ou mantinham a investida?
Um burro, que parecia doente,
A todos tomou a frente
Muito sério e eloquente.
E de maneira comovente,
Falou que bicho não é como gente,
Que trucida sem precedente.
Então, com um mesmo sentimento
Resolveram por um julgamento
E colocaram o lobo no isolamento.
Depois de tomarem o depoimento
Concordaram com o seu sofrimento,
E lhe impuseram um tratamento.
O lobo agora tem nova cartilha.
Vive em paz em partilha
E nenhum animal o humilha.
Mora junto aos cães em matilha,
Tem uma lobinha como filha
E está em constante vigília.
Para haver final feliz
É necessário mudar a matriz,
Desempinar o nariz
E não olhar a raiz.